Cada Papa tem o seu estilo, exercendo o mesmo ministério. Eu me preparava para ingressar no Seminário, quando o Papa Bento XVI foi eleito. Tinha a fama de um teólogo rigoroso, um alemão dado ao estudo da Teologia. Como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, era firme como o ofício exigia. Dada a sua trajetória e grandiosidade intelectual, sua eleição não foi uma surpresa. Era da confiança do seu antecessor, São João Paulo II.

Esteticamente, era alinhado ao estilo tradicional dos pontífices. Gostava de usar paramentos antigos. Obedecia, rigorosamente, às rubricas e ritos. Como bom teólogo, gostava de pensar e celebrar a fé. Era piedoso sem chamar muita atenção. Tinha perfil reservado, típico dos que se dedicam a profundas reflexões. Ao se pronunciar, era teologicamente cirúrgico. Era um grandioso mestre na explicitação sistemática da fé da Igreja. Conhecia a Tradição e as Escrituras. Sabia dialogar com estas duas grandes colunas da fé eclesial.

Sabendo dos desvios financeiros e morais na Igreja, cada vez mais evidentes, porque noticiados amplamente pela mídia sensacionalista em todo o mundo, o Papa Bento XVI deu os primeiros passos na reforma que foi continuada, com toda força, pelo seu sucessor, o Papa Francisco. Fez o que estava ao seu alcance, no seu ritmo, a partir de suas convicções. Foi aplaudido e criticado. Certamente deve ter sofrido, silenciosamente.

Sentindo-se impossibilitado de continuar a missão petrina, aderiu ao grande gesto de outros predecessores na história da Igreja: renunciou ao exercício do ofício petrino. Fez a leitura, pausadamente, de sua decisão, em língua latina, que dominava bem. Um grandioso e corajoso gesto de desapego, fruto da reflexão e oração pessoais. Surpreendeu a muitos, pois seu antecessor morreu no exercício da missão petrina. Preferiu o silêncio orante, para se preparar melhor para o encontro com Aquele que o chamou.

Sua renúncia, certamente foi um toque do Espírito para o momento oportuno e feliz da eleição do Papa Francisco. Assim o Senhor conduz a Igreja, contando com a colaboração dos homens e mulheres, que fieis ao espírito de seu tempo, ajudam a conduzir, na paciência do Senhor, esta grande e engenhosa embarcação, que é a Igreja. O Papa Bento XVI fez sua parte, com suas virtudes e limites. Foi fiel às suas convicções. Soube dar razão de sua fé. Entrou para a história como um dos teólogos mais importantes do nosso tempo. Sua teologia será lida e refletida por gerações.

Deus o acolha e o recompense pelo bem que fez à Igreja, povo de Deus, assembleia dos eleitos do Senhor.

Pe. Tiago de França